
Neste domingo (20), a tradição cristã celebra o Dia da Páscoa que, muito além dos ovos de chocolate e do feriado prolongado, é uma data carregada de significado espiritual, comemorada de formas distintas por diferentes tradições religiosas ao redor do mundo. No Brasil, país de maioria cristã, a data costuma ser associada à ressurreição de Jesus Cristo. No entanto, esse mesmo período do ano é marcado por outras expressões de fé e de memória histórica.
Os judeus celebram o Pessach, que recorda a libertação dos hebreus da escravidão no Egito; os muçulmanos, embora não celebrem a data, reconhecem a importância da figura de Jesus como profeta; e os evangélicos, ainda que com menos ritos litúrgicos, também se concentram na ressurreição como base de sua fé e momento de reflexão para o crescimento pessoal.
Seja por meio de jejuns, celebrações litúrgicas, jantares simbólicos ou momentos de contemplação, o período pascal desperta valores universais como esperança, renovação, liberdade e justiça. Na diversidade de crenças, o Brasil também encontra um ponto comum: a busca por significado e reconexão espiritual neste tempo do ano. A espiritualidade, ainda que expressa por caminhos distintos, segue sendo fonte de transformação para milhões de pessoas, especialmente nesta época.
Para católicos, Páscoa é o ápice da fé cristã
Na tradição católica, a Páscoa é considerada o ápice da fé cristã. Toda a vida litúrgica da Igreja gira em torno desse momento, que celebra a ressurreição de Jesus Cristo após sua morte na cruz. Para os fiéis, é tempo de renovar a fé, refletir sobre o sacrifício de Cristo e reviver, com profundidade espiritual, os passos de sua paixão, morte e ressurreição.
“A Semana Santa é a semana maior da fé, que justamente nasce de nós, cristãos. Sempre a Igreja considerou a Páscoa como a maior festa, e é o centro da vida e da fé dos cristãos. Todos nós somos chamados a participar como comunidade renovada a partir da Ressurreição”, afirma o padre Artur Anderson, vigário paroquial da Paróquia de São João Batista, em Lagoa Seca, Natal.
A preparação para a Páscoa começa com a Quaresma, um período de 40 dias que convida à introspecção, marcado por práticas de oração, jejum, penitência e obras de caridade. Esse tempo remete simbolicamente aos 40 dias em que Jesus permaneceu no deserto, sendo tentado, e representa uma oportunidade de conversão espiritual para os católicos. É também o momento de vivenciar o sacramento da reconciliação, com maior procura pela confissão.
A Semana Santa tem início com o Domingo de Ramos, que recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando foi saudado pelo povo com ramos de palmeiras. Nessa celebração, os fiéis seguram ramos nas mãos e participam de procissões que unem a festa à prefiguração da paixão que se aproxima.
O ponto alto da semana é o Tríduo Pascal, que começa na Quinta-feira Santa, data em que a Igreja celebra a instituição da Eucaristia durante a Última Ceia e o gesto do Lava-Pés, que simboliza o serviço e a humildade de Cristo. “É um serviço de atitude, que também nos faz nos reunir em torno da mesa, onde a gente vai receber Jesus sacramentado na Eucaristia”, explica o padre Artur.
Na Sexta-feira da Paixão, os fiéis são convidados a viver com intensidade as dores de Cristo e contemplar sua morte na cruz. É o único dia do ano em que não se celebra missa. Em vez disso, ocorre a liturgia da Palavra, a adoração da cruz e a comunhão eucarística com hóstias consagradas na véspera.
O Sábado de Aleluia é vivido em silêncio e recolhimento até a noite, quando a Igreja celebra a Vigília Pascal, considerada a “mãe de todas as vigílias”.
A liturgia pascal não termina no domingo. A Igreja celebra o Tempo Pascal por 50 dias, até a festa de Pentecostes, reforçando que a ressurreição de Cristo não é apenas um fato do passado, mas uma realidade presente na vida dos fiéis. “A Semana Santa nos prepara para uma evolução espiritual, um crescimento interior, que justamente nos conduz à Páscoa”, conclui o padre Artur.
Sem rituais fixos, evangélicos focam Páscoa na espiritualidade
Entre os evangélicos, a Páscoa também tem como foco a ressurreição de Jesus, mas é celebrada com práticas distintas das tradições católicas. Sem um calendário litúrgico tão rígido, muitas igrejas direcionam suas programações conforme a necessidade espiritual dos fiéis, com cultos temáticos, campanhas de oração e estudos bíblicos.
“Para o evangélico, a Páscoa sempre remete principalmente à questão da ressurreição de Jesus, que é sempre lembrada nessa época. Também celebramos a morte de Cristo, que faz parte desse evento de morte e ressurreição”, explica o pastor e teólogo Kleber Maia.
Segundo ele, a celebração da Ceia do Senhor, realizada mensalmente, já cumpre o papel de recordar o sacrifício de Jesus, e o domingo de Páscoa reforça a mensagem de vitória sobre a morte. “A gente tem uma programação muito voltada para aquilo que percebemos como necessidade de desenvolvimento da fé dos irmãos. As campanhas, os cultos temáticos, giram mais em torno disso do que de datas específicas”, destaca.
Ainda assim, a data é vista como um marco importante de renovação. “Quando lembramos todo o sofrimento, morte e ressurreição de Jesus, isso nos renova na esperança e também no nosso compromisso de fé com Ele”, acrescenta o pastor.
Com Pessach, judeus relembram saída do Egito e exaltam a liberdade
A celebração da Páscoa pelos judeus tem significado e rituais completamente diferentes. No judaísmo, o período é marcado pelo Pessach, uma das festas mais antigas da tradição, celebrada há mais de três mil anos para lembrar a saída dos hebreus a escravidão imposta pelos faraós. É uma festa de liberdade, mas também de responsabilidade.
“Conhecida como Pessach, é uma das festas mais importantes do calendário judaico, celebrando a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. Simboliza a conquista da liberdade e nos convida a refletir sobre o valor da justiça e da responsabilidade social”, afirma Sarita Cesana, presidente do Centro Israelita do Rio Grande do Norte (CIRN).
O ponto alto da comemoração é o Seder de Pessach, um jantar ritual realizado nas duas primeiras noites da festividade. A celebração envolve 15 etapas simbólicas, leitura da Hagadá (livro que narra o Êxodo), consumo de alimentos como matzá (pão sem fermento), ervas amargas e ovos cozidos, além da participação ativa das crianças e do canto tradicional Bivihilu.
A palavra “Sêder” vem do hebraico sêder, que significa “ordem”. Em Natal, a comunidade judaica também celebra a Mimouna, festa que marca o encerramento do Pessach, com confraternizações e a retomada do consumo de alimentos fermentados. “Essa celebração é um reflexo do nosso compromisso com a liberdade e a justiça, em qualquer lugar onde estejamos”, completa Sarita.

Mulçumanos reconhecem Jesus como profeta e não celebram Páscoa
Para os muçulmanos, a Páscoa, tal como é celebrada pelos cristãos, não faz parte do calendário religioso islâmico. Isso se deve à visão que o Islã tem sobre Jesus: ele é reconhecido como um dos maiores profetas, mas sua morte e ressurreição não são aceitas da mesma forma. “Muhamad Tawfik. Para nós, Jesus ainda não morreu, portanto, ele não pode ressuscitar. Ele está vivo. Onde, não sabemos. Deus sabe mais, Ele sabe onde está”, explica o imam Muhamad Tawfik, da Mesquita Omar, no Centro Islâmico do Alecrim.
Embora não haja celebrações específicas nesta data, os muçulmanos cultivam o respeito pelas demais religiões. “Respeitamos. Não tem como não respeitar a data dos outros, de qualquer religião, até mesmo de um ateu. A gente respeita opiniões e decisões de outras religiões”, afirma.
#Fonte: Tribuna do Norte
Páscoa: religiões expressam a fé e a espiritualidade de formas diferentes
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
20.4.25
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