Paolo Rossi se engajou conscientemente num processo sério de reeducação alimentar para melhorar a saúde e reduzir a compulsão - Foto: Alex Régis
Pecado capital para uns, problema de saúde para outros. A ingestão excessiva de comida, ou seja, o transtorno que pode ir além da gula e se tornar compulsão alimentar, é um problema com o qual muita gente não sabe lidar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a compulsão alimentar atinge cerca de 2,5% da população mundial. E no Brasil, 4,7% das pessoas passam por essa adversidade. Se não for observado com o devido cuidado, o ato de se alimentar além do que a fome exige pode se transformar em um transtorno grave e causar prejuízos à saúde.
A fronteira entre a gula e o transtorno alimentar passa por muito fatores. Um deles é o psicológico. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, a compulsão alimentar pode ser compreendida como transtorno quando ocorrem episódios frequentes, pelo menos duas vezes por semana, e quando esse comportamento se prolonga por um período específico de até seis meses.
A psicóloga Taciana Chiquetti afirma que a raiz do problema está bem definida numa máxima de Freud: todo excesso esconde uma falta. “Quando temos um comportamento compulsivo, estamos tentando compensar algum vazio interno, alguma falta, algo que ainda não foi bem resolvido em nós”, explica. A compulsão – seja por qualquer coisa – viria como um recurso compensatório para essa “fome emocional”.
Em quadros de estresse e ansiedade, por exemplo, a comida figura como uma compensação rápida, pois é algo ligado à satisfação, ao prazer, e também ao afeto. “Aprendemos desde bebês, que o desconforto é recompensado com a comida. Há também memórias afetivas como o bolo da vovó, a comida do interior, etc. Alimentação também representa afetos”, diz. Taciana ressalta que as fomes física e emocional andam juntas – mas é preciso saber quando uma termina e a outra começa.
“A fome emocional está muito mais associada a uma vontade de comer determinado alimento, porque ele tem uma representação psíquica para a gente. Já a fome física não é tão seletiva”, diz a psicóloga. Mas. ao “descontar” as emoções na comida, surge a sensação de alívio, que, posteriormente, se transforma em um sentimento de culpa.
A pessoa com compulsão alimentar lida com emoções intensas. Após saciada a “fome”, surge então o chamado efeito rebote, e o sentimento de culpa vem com tudo. “A pessoa passa a se culpar por ter comido tanto, ligando isso às exigências sociais, que pedem corpo padrão e moderação. Daí aumenta a ansiedade, o sentimento de tristeza, e a pessoa volta a comer novamente. Ela fica presa nesse circuito”, explica.
Para reverter esse quadro, é preciso comprometimento e apoio profissional adequado. Normalmente, o tratamento é feito de forma multidisciplinar, com a participação de psiquiatras e nutricionistas, além de psicólogos. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário. Tatiana afirma que através do autoconhecimento conduzido pela terapia, é possível compreender o vazio que a pessoa quer preencher.
“Quando a pessoa busca outras fontes de preenchimento, ela pode encontrar coisas mais saudáveis e menos excessivas. Pode continuar comendo aquilo que lhe dá prazer, mas não só comida, porque há outras fontes de preenchimento. A partir do momento que ela compreende aquele vazio, ela pode abrir possibilidade para novas fontes de preenchimento, e acolher a si mesma”, analisa.
Excesso de comida pode levar à compulsão alimentar; entenda
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
4.2.24
Rating:
Nenhum comentário:
OS COMENTÁRIOS SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
REGRAS PARA FAZER COMENTÁRIOS:
Se registrar e ser membro do Blog; Se identificar (não ser anônimo); Respeitar o outro; Não Conter insultos, agressões, ofensas e baixarias; A tentativa de clonar nomes e apelidos de outros usuários para emitir opiniões em nome de terceiros configura crime de falsidade ideológica; Buscar através do seu comentário, contribuir para o desenvolvimento.