Chefe de importação do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e o deputado Luis Miranda (DEM-DF), durante depoimento à CPI da CovidImagem: Jefferson Rudy/Agência Senado
Faltava pouco para as 11 da noite de sexta-feira. Ultimo orador inscrito, foi chamado para falar o senador Fabiano Contarato (Rede Sustentabilidade-ES).
"Está sacramentado que a permanência do presidente da República no Palácio do Planalto se torna insustentável. A Câmara dos Deputados tem de ter a hombridade, a responsabilidade de abrir um dos 130 pedidos de impeachment".
A esta altura, a barulhenta tropa de choque do governo já tinha abandonado o recinto. Os gritos histéricos cessaram, um grave silêncio tomou conta do auditório do Senado onde está instalada a CPI da Pandemia. Parecia que alguém havia morrido: o governo Bolsonaro.
Um servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, tinha acabado de fazer a autopsia do maior escândalo de corrupção do governo Bolsonaro, que agoniza em praça pública e deixa um mal cheiro no ar.
Em plena pandemia, que já deixou mais de 500 mil mortos, um contrato de R$ 1,6 bilhão foi assinado pelo Ministério da Saúde em fevereiro para importar vacinas da Índia, que nunca chegariam ao Brasil.
Levado ao Palácio da Alvorada num sábado à tarde por seu irmão, o deputado Luís Miranda (DEM), da base aliada do governo, o servidor contou em detalhes ao presidente Jair Bolsonaro a maracutaia que estava sendo armada para um pagamento antecipado de R$ 220 milhões num paraíso fiscal de Cingapura, antes que a vacina fosse aprovada pela Anvisa e chegasse ao Brasil.
Luís Ricardo se queixou que estava sofrendo pressão de superiores para acelerar o negócio. Bolsonaro ouviu tudo, prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o caso e, no meio da conversa, citou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, "que deve estar metido nesse rolo".
Ex-ministro da Saúde no governo de Michel Temer, Barros é um conhecido operador do Centrão, ligado ao laboratório Precisa, que fez a intermediação da compra na Índia. Foi ele o autor de uma emenda à medida provisória sobre a importação de vacinas para trazer logo a indiana Covaxin.
Quando era ministro, Barros já tinha feito um pagamento antecipado de R$ 20 milhões para a mesma Precisa pela compra de remédios para doenças raras que nunca foram entregues, alvo de um processo que se arrasta até hoje na Justiça.
A história toda da Covaxin é muito enrolada, mas o fato é que Bolsonaro não acionou a Polícia Federal e entregou o caso ao general Eduardo Pazuello, que estava de saída do Ministério da Saúde, e não encontrou nada de errado na negociação feita pelo coronel Elcio Franco, seu secretário-executivo e homem de confiança. Hoje, os dois trabalham com o presidente no quartel do Palácio do Planalto.
Graças à coragem de Luís Ricardo, o pagamento não foi feito, o negócio não foi para a frente, mas o dinheiro para comprar a Covaxin continua empenhado pelo governo. O valente ministro Onyx Lorenzoni, perdoado por Sergio Moro, agora quer investigar o servidor.
No mínimo, Bolsonaro pode ser denunciado pela CPI pelo crime de prevaricação, mas ele parece não estar preocupado com esse novo escândalo no seu governo, que ele nega, na mesma semana em que o ministro Ricardo Salles pediu demissão para não ser preso, por outros rolos, como contrabando de madeira da Amazônia.
Como se não tivesse nada a ver com isso, neste sábado Bolsonaro apareceu lépido e fagueiro em Chapecó (SC), para participar de mais uma motoceata e de reuniões com empresários e lideranças evangélicas, dando prosseguimento normal à agenda da sua campanha pela reeleição.
Sem nunca ter sido incomodado pelos negócios com as "rachadinhas" de Fabrício Queiroz nos gabinetes da família, depois de virar presidente improvável, agora Bolsonaro pode encontrar no "rachadão" das vacinas a pá de cal do seu governo, que está derretendo e só ele não vê.
Se antes faltava povo na rua para pedir o "Fora Bolsonaro" e um escândalo para chamar de seu, agora não falta mais nada. Nas redes sociais só se fala em impeachment _ contra ou a favor.
Partidos de oposição e movimentos sociais já estão pensando em antecipar as novas manifestações marcadas para 24 de julho e, na quarta-feira, a Câmara vai receber um "superpedido" de impeachment em nome da sociedade civil, com o conjunto da obra bolsonarista, incluindo agora o "rachadão".
Com a popularidade em queda e a CPI do Senado fechando o cerco para responsabilizá-lo pelo fracasso do combate à pandemia, que já levou a mais de 500 mil mortos e 18 milhões de contaminados, está se formando a tempestade perfeita para o governo do ex-capitão, eleito "contra tudo isso que está aí", prometendo uma "nova política" para "acabar com a corrupção".
Estamos vendo no que deu. O senador Fabiano Contarato tem toda razão. A permanência de Jair Bolsonaro no governo se tornou insustentável.
Mais dia, menos dia, esse pesadelo precisa ter um fim. Chega!
O país não aguenta mais tanto descaso desse desgoverno genocida e corrupto, que já desistiu de governar faz tempo. Se é que um dia começou.
Vida que segue.
"Está sacramentado que a permanência do presidente da República no Palácio do Planalto se torna insustentável. A Câmara dos Deputados tem de ter a hombridade, a responsabilidade de abrir um dos 130 pedidos de impeachment".
A esta altura, a barulhenta tropa de choque do governo já tinha abandonado o recinto. Os gritos histéricos cessaram, um grave silêncio tomou conta do auditório do Senado onde está instalada a CPI da Pandemia. Parecia que alguém havia morrido: o governo Bolsonaro.
Um servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, tinha acabado de fazer a autopsia do maior escândalo de corrupção do governo Bolsonaro, que agoniza em praça pública e deixa um mal cheiro no ar.
Em plena pandemia, que já deixou mais de 500 mil mortos, um contrato de R$ 1,6 bilhão foi assinado pelo Ministério da Saúde em fevereiro para importar vacinas da Índia, que nunca chegariam ao Brasil.
Levado ao Palácio da Alvorada num sábado à tarde por seu irmão, o deputado Luís Miranda (DEM), da base aliada do governo, o servidor contou em detalhes ao presidente Jair Bolsonaro a maracutaia que estava sendo armada para um pagamento antecipado de R$ 220 milhões num paraíso fiscal de Cingapura, antes que a vacina fosse aprovada pela Anvisa e chegasse ao Brasil.
Luís Ricardo se queixou que estava sofrendo pressão de superiores para acelerar o negócio. Bolsonaro ouviu tudo, prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o caso e, no meio da conversa, citou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, "que deve estar metido nesse rolo".
Ex-ministro da Saúde no governo de Michel Temer, Barros é um conhecido operador do Centrão, ligado ao laboratório Precisa, que fez a intermediação da compra na Índia. Foi ele o autor de uma emenda à medida provisória sobre a importação de vacinas para trazer logo a indiana Covaxin.
Quando era ministro, Barros já tinha feito um pagamento antecipado de R$ 20 milhões para a mesma Precisa pela compra de remédios para doenças raras que nunca foram entregues, alvo de um processo que se arrasta até hoje na Justiça.
A história toda da Covaxin é muito enrolada, mas o fato é que Bolsonaro não acionou a Polícia Federal e entregou o caso ao general Eduardo Pazuello, que estava de saída do Ministério da Saúde, e não encontrou nada de errado na negociação feita pelo coronel Elcio Franco, seu secretário-executivo e homem de confiança. Hoje, os dois trabalham com o presidente no quartel do Palácio do Planalto.
Graças à coragem de Luís Ricardo, o pagamento não foi feito, o negócio não foi para a frente, mas o dinheiro para comprar a Covaxin continua empenhado pelo governo. O valente ministro Onyx Lorenzoni, perdoado por Sergio Moro, agora quer investigar o servidor.
No mínimo, Bolsonaro pode ser denunciado pela CPI pelo crime de prevaricação, mas ele parece não estar preocupado com esse novo escândalo no seu governo, que ele nega, na mesma semana em que o ministro Ricardo Salles pediu demissão para não ser preso, por outros rolos, como contrabando de madeira da Amazônia.
Como se não tivesse nada a ver com isso, neste sábado Bolsonaro apareceu lépido e fagueiro em Chapecó (SC), para participar de mais uma motoceata e de reuniões com empresários e lideranças evangélicas, dando prosseguimento normal à agenda da sua campanha pela reeleição.
Sem nunca ter sido incomodado pelos negócios com as "rachadinhas" de Fabrício Queiroz nos gabinetes da família, depois de virar presidente improvável, agora Bolsonaro pode encontrar no "rachadão" das vacinas a pá de cal do seu governo, que está derretendo e só ele não vê.
Se antes faltava povo na rua para pedir o "Fora Bolsonaro" e um escândalo para chamar de seu, agora não falta mais nada. Nas redes sociais só se fala em impeachment _ contra ou a favor.
Partidos de oposição e movimentos sociais já estão pensando em antecipar as novas manifestações marcadas para 24 de julho e, na quarta-feira, a Câmara vai receber um "superpedido" de impeachment em nome da sociedade civil, com o conjunto da obra bolsonarista, incluindo agora o "rachadão".
Com a popularidade em queda e a CPI do Senado fechando o cerco para responsabilizá-lo pelo fracasso do combate à pandemia, que já levou a mais de 500 mil mortos e 18 milhões de contaminados, está se formando a tempestade perfeita para o governo do ex-capitão, eleito "contra tudo isso que está aí", prometendo uma "nova política" para "acabar com a corrupção".
Estamos vendo no que deu. O senador Fabiano Contarato tem toda razão. A permanência de Jair Bolsonaro no governo se tornou insustentável.
Mais dia, menos dia, esse pesadelo precisa ter um fim. Chega!
O país não aguenta mais tanto descaso desse desgoverno genocida e corrupto, que já desistiu de governar faz tempo. Se é que um dia começou.
Vida que segue.
#Fonte: Uol, BALAIO DO KOTSCHO
.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
COMUNICAR ERRO
VEJA TAMBÉM
Ato na Paulista pede 'fora Bolsonaro' após depoimento de Miranda na CPI
Irmãos Miranda tornaram-se para Bolsonaro o que o Eriberto foi para Collor
Escândalo do Vacinoduto aproxima impeachment de Bolsonaro do mundo real
PUBLICIDADE
BALAIO DO KOTSCHO
"Rachadão" das vacinas pode ser a pá de cal no moribundo governo Bolsonaro26/06/2021 16h38
Lula seria eleito no primeiro turno se eleições fossem hoje, segundo Ipec25/06/2021 10h34
Brasília pega fogo e Bolsonaro em campanha vai passear de moto em Chapecó24/06/2021 19h19
Bolsonaro xinga repórter da Globo de canalha e manda calar a boca21/06/2021 19h37
Perdemos Ricardo Carvalho, um repórter apaixonado e grande ser humano20/06/2021 17h41
Brasil vai às ruas para gritar "Fora Bolsonaro!" no dia das 500 mil mortes19/06/2021 18h11
TV Brasil transmite ao vivo comício de Bolsonaro no Pará: pode isso, TSE?18/06/2021 16h34
Paris é uma festa e Brasil fica fora do mundo onde a vida voltou ao normal17/06/2021 16h53
Sem chance de "terceira via", disputa em 2022 ficará entre Lula e Bolsonaro16/06/2021 17h45
"O Brasil não pode sangrar até 2022", diz Boulos sobre protestos do dia 1914/06/2021 17h58
Tem que interditar: Bolsonaro solto é uma ameaça à saúde pública12/06/2021 16h51VER MAIS
OPINIÃO: "Rachadão" das Vacinas Pode Ser a Pá de Cal no Moribundo Governo Bolsonaro
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
27.6.21
Rating:
Nenhum comentário:
OS COMENTÁRIOS SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
REGRAS PARA FAZER COMENTÁRIOS:
Se registrar e ser membro do Blog; Se identificar (não ser anônimo); Respeitar o outro; Não Conter insultos, agressões, ofensas e baixarias; A tentativa de clonar nomes e apelidos de outros usuários para emitir opiniões em nome de terceiros configura crime de falsidade ideológica; Buscar através do seu comentário, contribuir para o desenvolvimento.