Créditos: Jefferson Rudy/Agência SenadoLuiz Henrique Mandetta pontuou críticas, ações e omissões de uma série de colaboradores do presidente Jair Bolsonaro
Primeiro a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o
ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta atribuiu ontem ao presidente
Jair Bolsonaro responsabilidades pela disseminação do novo coronavírus
no País e, consequentemente, por mais mortes causadas pela doença. Em um
depoimento que durou sete horas e meia, o ex-ministro disse que a
Presidência chegou a avaliar um decreto que incluiria na bula da
cloroquina a recomendação para tratar covid-19.
O medicamento, propagandeado por Bolsonaro como solução para a doença, é usado contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.
A CPI da Covid foi criada para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. Os senadores apuram se houve crime na conduta de Bolsonaro, que, em diversas ocasiões, negou a gravidade da doença.
Aos senadores, o ex-ministro descreveu um cenário em que o presidente contrariou recomendações científicas, interrompeu programa de testagem e ignorou alertas no início da pandemia de que a doença poderia causar mais de 180 mil mortes no País. Até ontem, foram 411 mil vidas perdidas por covid-19.
Mandetta foi demitido em abril do ano passado, após se desentender com Bolsonaro. Fora do governo, ele passou a se movimentar para disputar a Presidência em 2022 pelo DEM.
O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou as declarações do ex-ministro como "graves" e "acima das expectativas". Integrantes da CPI consideraram que as informações têm potencial para implicar Bolsonaro e aliados mais próximos.
Mandetta pontuou críticas, ações e omissões de uma série de colaboradores do presidente. Dos filhos ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao chefe da Economia, Paulo Guedes. Um dos pontos que mais chamaram a atenção dos senadores, porém, foi a revelação de que o Planalto tinha a intenção de alterar a bula da cloroquina por meio de decreto presidencial.
"Havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), colocando na bula a indicação para coronavírus", disse o ex-titular da Saúde.
A investida, segundo Mandetta, foi barrada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e por Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
A Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou. A Anvisa disse que Barra Torres fará esclarecimentos amanhã, quando deverá prestar depoimento.
Ontem, durante conversa com apoiadores na porta do Alvorada, Bolsonaro ironizou seu ex-ministro. "Mandetta é aquele do ‘Fique em casa e continue sem ar’", declarou, em referência a orientações da gestão Mandetta para que as pessoas procurassem atendimento somente em casos de sintomas graves. À época, a medida era defendida por especialistas como forma de evitar o colapso no sistema de saúde.
Conselhos
Aos senadores, Mandetta afirmou que Bolsonaro tinha uma "aconselhamento paralelo", alheio às diretrizes do Ministério da Saúde. Ele relatou que os filhos políticos do presidente participavam de reuniões no Planalto e chegaram a barrar uma reunião presencial com o embaixador chinês.
Em pelo menos duas oportunidades, Mandetta respondeu positivamente a perguntas de senadores sobre a contribuição pessoal do presidente para o agravamento da pandemia, em referência às críticas ao isolamento social e ao uso de máscaras "Se a postura trouxe um impacto? Sim. Em tempos de epidemia, você tem que ter a unidade. Você tem que ter uma fala única. O raciocínio não é individual. Esse vírus ataca a sociedade como um todo", disse o ex-ministro da Saúde.
Testemunho
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich prestará depoimento à CPI da Pandemia na quarta-feira (5) a partir das 10h. Ele será o segundo ex-ministro do governo Bolsonaro a ser ouvido pelos senadores.
O depoimento de Teich estava previsto para ocorrer nesta terça-feira (4), mas teve de ser adiada devido ao grande número de perguntas dirigidas ao também ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, primeiro a ser ouvido pela CPI.
Já o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, que estava agendado para a quarta-feira, foi adiado por 15 dias a pedido dele. Pazuello alegou risco de contaminação por ter se encontrado recentemente com pessoas com covid-19. Ele é o mais recente ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro e foi sucedido por Marcelo Queiroga, que deve depor à CPI na quinta-feira (6).
Durante a reunião de hoje, o presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), ainda não havia sido comunicado oficialmente sobre a condição de Pazuello. Omar Aziz disse que os depoimentos não podem ser remotos. Alguns senadores chegaram a levantar a hipótese de que a história seria uma desculpa para adiar o depoimento.
No meio da tarde, Omar Aziz leu comunicado recebido do Comando do Exército sobre o contato recente de Pazuello com duas pessoas testadas positivas para covid-19. O presidente da CPI negou que o depoimento pudesse ser feito remotamente e decidiu reagendar o depoimento de Pazuello para 19 de maio, daqui a 15 dias.
Nelson Luiz Sperle Teich foi ministro da Saúde do Brasil entre 17 de abril e 15 de maio de 2020.
Ele assumiu logo após a saída de Mandetta e, quatro semanas depois, foi substituído por Pazuello.
Pazuello cita suspeita de covid para adiar depoimento
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello alegou que pode ter contraído novamente coronavírus e, por isso, não vai comparecer hoje, 4, à CPI da Covid, no Senado. O depoimento do general, o mais aguardado até agora, foi adiado para o dia 19. Ao justificar o motivo para desmarcar o compromisso, Pazuello disse ter estado, no fim de semana, com dois coronéis diagnosticados com covid. Nos bastidores, generais ligados ao Comando-Geral disseram não saber quem são esses auxiliares de Pazuello.
A exposição do ex-ministro na CPI e sua falta de traquejo político preocupam tanto o governo como as Forças Armadas. Nos últimos dias, Pazuello recebeu um treinamento intensivo no Palácio do Planalto, que incluiu media training com perguntas e respostas. O general deixou o governo em março e, na despedida, disse que se recusou a atender a pedidos de "pixulé" encaminhados por uma "liderança política".
O presidente Jair Bolsonaro e ministros militares temem que Pazuello não aguente a pressão da CPI e acabe se "atrapalhando". No Planalto também há o receio de que o general saia preso do depoimento. O Ministério Público Federal apresentou, recentemente, ação de improbidade administrativa contra Pazuello por omissão no desabastecimento de oxigênio no Amazonas.
Ao Estadão, oficiais do Exército disseram que a Força não participou do treinamento feito com o ex-ministro, no Planalto, para responder às perguntas de senadores na CPI. Em um ofício encaminhado ao general de Divisão Francisco Humberto Montenegro Junior, Pazuello relatou o contato com auxiliares que tiveram covid. Depois, sugeriu que seu depoimento no Senado fosse por videoconferência ou em outra data.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), conversou sobre o episódio, por telefone, com o comandante-geral do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. "Ele teve contato com dois coronéis, neste fim de semana, que estão com covid. Segundo a informação que eu tenho, ele entrará em quarentena e não virá depor amanhã (hoje)", disse Aziz.
Em outubro do ano passado, o então titular da Saúde contraiu covid e chegou a ficar internado no hospital DF Star, em Brasília. Apesar de já ter se contaminado, existe a possibilidade de reinfecção. Alguns testes para covid, no entanto, apresentam resultado em uma hora.
Após o anúncio de Aziz, a atitude de Pazuello foi criticada por integrantes da CPI. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) lembrou que Pazuello foi flagrado na semana passada em um shopping de Manaus, sem máscara de proteção facial. "Ele anda sem máscara e não pode vir à CPI. Vai sem máscara para o shopping e não pode vir à CPI", protestou a senadora.
O depoimento de Pazuello é considerado um dos mais importantes pela comissão, que investiga erros e omissões do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. Substituído pelo médico Marcelo Queiroga, o general fez acusações ao deixar a Saúde, admitindo até a existência de esquema de corrupção na pasta.
Na avaliação de senadores, Pazuello foi responsável pelo agravamento da pandemia. O ex-ministro é um dos alvos de Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. "Guerras se enfrentam com especialistas, sejam elas bélicas ou sanitárias. A diretriz é clara: militares nos quartéis e médicos na saúde. Quando se inverte, a morte é certa", disse Renan na instalação do colegiado.
Pazuello foi convocado na condição de testemunha. A estratégia foi adotada pelos senadores para evitar que ele recorresse à Justiça para ficar em silêncio, sob alegação de que tem o direito de não produzir provas contra si mesmo.
#Fonte: Tribuna do Norte
Ex-Ministro Mandetta Depõe na CPI e Culpa Bolsonaro pela Disseminação da Covid-19
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