A obesidade é um fator de risco para o agravamento da Covid-19 e morte pela doença tão importante quanto ser idoso (entenda por quê). Cientistas brasileiros descobriram que os obesos correm perigo elevado, não importando idade, sexo, etnia ou comorbidades, como hipertensão, doença cardíaca, pulmonar ou diabetes.
Pessoas com sobrepeso também têm risco aumentado, pois este cresce junto com os quilos na balança. Indivíduos acima do peso, mas que não chegam a ser obesos, já têm algum grau de inflamação e podem apresentar deficiências imunológicas, afirma Silvia Sales-Peres, professora da Universidade de São Paulo (USP) em Bauru e coordenadora de uma revisão sistemática sobre o impacto da obesidade sobre a Covid-19.
— Vimos que mesmo em pessoas sem nenhuma outra doença além da própria obesidade, o risco de Covid-19 grave é significativamente maior, inclusive nos jovens. Isso é gravíssimo para o Brasil, no qual a maior parte da população está acima do peso — enfatiza Sales-Peres.
Em abril, médicos já haviam observado uma relação evidente entre a obesidade e a Covid-19 grave. Mas se pensava que isso ocorria porque a obesidade quase sempre está acompanhada de comorbidades. O que o estudo da USP mostra é que somente ser obeso já eleva muito o risco da Covid-19.
Pessoas obesas e aquelas com sobrepeso enfrentam o coronavírus em desvantagem a partir do momento em que são infectadas. E nelas a doença também progride mais depressa para um quadro grave, salienta Sales-Peres.
Apoiado pela Fapesp, o estudo do grupo dela foi publicado na revista Obesity Research & Clinical Practice e analisou dados de nove pesquisas com 6.577 pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 em China, França, Espanha, Itália e Estados Unidos. O estudo mostrou que 9,4% dos obesos internados em UTI morreram.
Uma outra pesquisa internacional, publicada na Obesity Reviews com dados de 399.000 pacientes no mundo, mostrou que pessoas obesas com coronavirus têm 113% mais chance de precisar de internação do que aquelas com peso normal. O risco de internação em UTI é 74% maior e o de morte, 48% superior.
A notícia é particularmente preocupante para o combate da pandemia em países como o Brasil em que 55% da população têm sobrepeso e outros 19,2% são obesos, de acordo com a última pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, com dados de 2018.
Uma série de mecanismos de defesa e de inflamação são desregulados nos obesos e, em menor escala, nas pessoas com sobrepeso. Um dos mais importantes é que por terem mais receptores chamados ECA-2, usados pelo coronavírus para invadir as células, essas pessoas têm maior carga viral.
Além disso, o Sars-CoV-2 se multiplica no tecido adiposo e faz dele um reservatório. O coronavírus não apenas ataca com mais intensidade quanto permanece por mais tempo, explica Sales-Peres.
Tempestade perfeita
Especialista em obesidade, Lício Velloso, professor titular do Departamento de Clínica Médica da Unicamp, salienta que no obeso o corpo está em desequilíbrio permanente. Por isso, é muito mais vulnerável ao coronavírus.
O obeso tem menos defesas contra vírus porque sua imunidade é mais fraca. E também é mais propenso a quadros inflamatórios graves porque já sofre de inflamação crônica. Para piorar, o coronavírus se multiplica e se esconde na gordura. Como se não bastasse, o excesso de tecido adiposo prejudica o funcionamento dos pulmões. Ele é vítima de uma tempestade perfeita.
— A obesidade é por si só uma doença crônica e muito perigosa. Não se trata de falta de força de vontade. É uma doença e deve ser encarada como tal. Isso é fundamental inclusive para combater o estigma — ressalta.
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