
A renda é fator determinante na mortalidade por covid-19. Essa é a
conclusão de pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do
Norte (UFRN) e do Ceará (UFC), que analisaram as informações
epidemiológicas e a letalidade da doença baseados em dados de
geoprocessamento dos casos e óbitos. Os cientistas observaram que a
transmissibilidade, assim como a chance de alguém com a infecção morrer
por causa do coronavírus na cidade de Natal, depende fortemente da
localidade.
A pesquisa mostra que na Zona Norte, onde há mais vulnerabilidade
social, essa taxa é de 4,49%, enquanto na Zona Sul é de 1,47%. Na Zona
Oeste a taxa (4,18%) também é bastante superior à da Zona Leste (2,97%).
As regiões Norte e Oeste têm renda média de R$ 470 e as regiões Sul e
Leste apresentam renda média três vezes superior (R$ 1.603), conforme
mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019.
“Ao avaliarmos a taxa de mortalidade em cada região de Natal,
observamos uma relação linear entre a taxa de mortalidade e a renda
média. A relação é bastante forte, sendo que a renda média é suficiente
para explicar 89% da variação da taxa de mortalidade entre as zonas”,
disse César Renno-Costa (IMD-UFRN) um dos pesquisadores envolvidos.
“A covid-19 é uma lupa de aumento dos problemas socioeconômicos
estabelecidos ao longo dos anos. O Brasil sofrerá particularmente se a
covid-19 não for controlada a tempo. A pandemia poderá se transformar de
forma muito rápida em uma crise humanitária com forte viés
socioeconômico”, argumentou José Dias do Nascimento, do Departamento de
Física Teórica e Experimental (DFTE/UFRN) também envolvido na pesquisa.
Ele reforça que o estudo aponta para a necessidade primordial de
utilização de diferentes cuidados e desenvolvimento de políticas focadas
em populações vulneráveis para que se tenha efeitos estabilizadores na
sociedade como um todo.
Essas evidências apontam na direção de uma série de vulnerabilidades
subjacentes que contribuem para a morte por infecção nas regiões Norte e
Leste, que têm taxas de mortalidade por covid-19 duas vezes maior que
as pessoas que vivem nas zonas Sul e Leste, mesmo as populações dessas
áreas tendo disponíveis praticamente o mesmo sistema de saúde. “A
contaminação é grande em todas as classes sociais, porém os
desfavorecidos têm, estatisticamente, desfechos fatais”, enfatizou José
Dias.
Para José Dias, a vulnerabilidade social está muito ligada à renda
das pessoas, mas a falta de investimentos do estado nas regiões mais
pobres também pode influenciar nesses fatores. “Esses lugares sofrem com
a baixa proteção social, saneamento básico, densidade domiciliar,
acesso a alimentos, nutrição balanceada para crianças pequenas, mulheres
grávidas e que amamentam, idosos, grupos de risco e dificuldade de
acesso à visita médica regular que identifique doenças críticas”,
reforça o pesquisador.
Outro fator observado na pesquisa é a situação do isolamento social,
que também tem grande correlação com as diferentes populações. “Pessoas
de baixa renda precisam sair de casa. Ou seja, nosso estudo também é um
guia para que a gestão pública entenda que não se pode segurar ninguém
em casa sem dar condições. É um problema dinâmico”, destacou.

Além de José Dias e César Renno, participaram dessa pesquisa os
cientistas, Leandro Almeida (Física – UFRN), Renan Cipriano Moioli (IMD –
UFRN), José Soares (Física – UFC), Humberto Carmona (Física – UFC) e
Wladimir Lyra (NM, USA). O estudo também teve colaboração de Ricardo
Valentim (LAIS-UFRN) e Ion Andrade (LAIS-UFRN).
#Fonte: UFRN
RN: Pesquisa Aponta que Mortalidade por Covid-19 em Natal é Maior Entre os Mais Pobres; Veja mapas
Reviewed by Canguaretama De Fato
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10.6.20
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