Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo
Dados do portal Covid-19 Brasil, que tem se destacado pelo acerto de
suas projeções da pandemia de coronavírus, mostram que a doença no país
está concentrada na faixa etária que vai de 20 a 49 anos, com números
próximos de 500 mil casos. No município do Rio, 43% dos registros são de
pessoas entre 30 e 49 anos.
E apesar de os óbitos seguirem uma tendência mundial – 85% dos mortos
têm acima de 60 anos – o percentual de mortes observado entre
brasileiros com menos de 50 anos tem sido maior do que o verificado em
outros países da Europa e Estados Unidos.
A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, foi a primeira a
advertir, com veemência, ainda em março, que o país “rejuvenesceria” a
doença, como resultado da combinação da pirâmide etária brasileira com o
baixo grau de distanciamento social.
— Não estamos falando de casos leves ou assintomáticos. Nos referimos
a pessoas que adoeceram com gravidade e engrossaram a triste
estatística de casos confirmados. E casos confirmados em nosso país, sem
testes e com altíssima subnotificação, são os mortos e os internados em
hospitais com um quadro grave da Covid-19 —salienta Dalcolmo, que
integra o comitê científico que assessora o governo do estado do Rio de
Janeiro no combate ao novo coronavírus.
Foto: Editoria de Arte
A pneumologista se uniu ao especialista em análises numéricas
Domingos Alves, do portal Covid-19 Brasil, para investigar e analisar o
impacto da doença no Brasil. O portal reúne cientistas e estudantes de
várias universidades brasileiras.
As análises levaram em conta dados oficiais do Ministério da Saúde,
do Portal da Transparência do Registro Civil e do próprio portal
Covid-19 Brasil, que faz estimativas dos casos subnotificados e
projeções da evolução da pandemia. O especialista em informática
biomédica Filipe Bernardi detalhou os dados por bairro da cidade do Rio.
— É fácil observar no boletim oficial do município o impacto da
Covid-19 nas pessoas entre 30 e 49 anos, que representam 43% do total. A
despeito do número de óbitos ser maior nas idades mais avançadas,
existe um significativo percentual de jovens sendo internados — diz
Alves, especialista em modelagem computacional e líder do Laboratório de
Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
da Universidade de São Paulo.
Ele observa que, de maneira geral, os óbitos no Brasil seguem a
tendência mundial, de serem mais prevalentes em idades acima de 60 anos
(85%).
Entretanto, o percentual de mortes observado no país para pessoas com
menos de 50 anos tem sido maior do que o verificado em outros países,
como Itália, Espanha e Estados Unidos. No Brasil, 7% dos mortos tinham
entre 40 e 50 anos; e 3,9% entre 20 e 39 anos.
— O jovem tem mais defesas imunológicas. Por isso, morre menos, mas
não quer dizer que não adoeça com gravidade. A situação está grave
demais. Muita gente ainda não entendeu que o distanciamento social é a
única maneira opção que temos para conter o coronavírus — diz Dalcolmo.
Ser jovem não é ser imune
Ser novo, não ter fatores de risco e praticar atividade física não
garantem imunidade a ninguém. Por exemplo, um dos pacientes de Dalcolmo é
uma moça de 21 anos, moradora da Zona Sul do Rio e de perfil atlético.
Na semana passada, ela começou a sentir sintomas da Covid-19 e, dentre
eles, a sensação de estar com a panturrilha “queimando”.
Um exame revelou trombos, uma das marcas da doença. Seu único
possível fator de risco, diz a médica, era tomar pílula
anticoncepcional.
A comparação entre a distribuição etária do boletim oficial e a do
portal Covid-19 Brasil mostra uma diferença importante. O boletim
registra as pessoas que foram testadas e, portanto, internadas (casos
graves e críticos). Já o portal considera todos os infectados, incluindo
assintomáticos e sintomáticos leves.
— Essa população, provavelmente em grande maioria de sintomáticos
leves ou assintomáticos, é a lenha que alimenta o espalhamento da
epidemia — diz Alves.
Margareth Dalcolmo salienta que a pirâmide etária não é tudo. O fator socioeconômico também pesa:
— Os jovens em maior risco não são os de classe média e alta, que
podem se dar ao luxo do home office. São os de classes mais baixas, que
precisam sair para trabalhar. Pessoas que não têm informação suficiente
sobre a doença e que moram em comunidades com elevada circulação do
coronavírus. A doença espelha nossa demografia e nossa disparidade
social.
Cálculo cobre lacuna
O portal Covid-19 Brasil tem estimado o número de casos de pessoas
infectadas no país por meio de modelagem reversa. Desta forma, contornam
a ausência de dados, pois o Brasil segue sem testagem em massa.
O grupo emprega como base de cálculo o número de mortes notificadas.
Embora as mortes também sejam subnotificadas, são um indicador mais
consolidado do panorama nacional.
Os cientistas aplicam a taxa de letalidade da Coreia do Sul e ajustam
os números à pirâmide etária do Brasil. O país asiático é usado como
base porque tem dados consolidados sobre testagem desde os primeiros
casos.
Domingos Alves diz que a metodologia usada está disponível no site do projeto Covid-19 Brasil.
#Fonte: O Globo
No Brasil, Coronavírus Afeta Mais os Jovens: Faixa de 20 a 49 anos Concentra Casos, diz Estudo
Reviewed by Canguaretama De Fato
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