Imagem: Pixabay
Pesquisadores americanos e europeus conseguiram usar um método bem
conhecido para identificar com precisão a presença de anticorpos contra o
novo coronavírus no sangue humano. Os resultados, que ainda são
preliminares, indicam um caminho promissor para mapear as pessoas que já
foram infectadas pelo vírus e desenvolveram imunidade contra ele,
informação que pode ser crucial no combate à doença a médio e longo
prazo.
O grupo capitaneado por Florian Krammer, da Escola de Medicina Icahn,
no Hospital Mount Sinai (Nova York), divulgou os dados no site Medrxiv,
que é dedicado ao armazenamento dos chamados “pré-prints”, ou seja,
versões iniciais de estudos que ainda não passaram pelo crivo de outros
pesquisadores antes de serem aceitos para publicação numa revista
científica. Portanto, é possível que as conclusões sejam alteradas
conforme a pesquisa passa pela chamada revisão por pares.
Quando o organismo humano enfrenta a invasão de parasitas como vírus
ou bactérias, ele costuma produzir anticorpos, moléculas cuja estrutura
bioquímica é “projetada” para neutralizar moléculas produzidas pelo
invasor. Esse processo certamente está acontecendo no mundo todo neste
momento, conforme a infecção pelo vírus da nova doença, o Sars-CoV-2,
segue seu curso e se encerra após algumas semanas.
Krammer e seus colegas usaram amostras coletadas antes do início da
pandemia e outras obtidas de três pacientes que tiveram a Covid-19 para
ver se conseguiam “pescar” anticorpos específicos contra o novo vírus.
Tais anticorpos são os responsáveis por neutralizar a chamada proteína
da espícula do Sars-CoV-2 (também conhecida como proteína S). Trata-se
de uma espécie de gancho molecular que o vírus usa para se conectar a um
local específico das células humanas.
Para isso, eles empregaram um exame do tipo Elisa, muito usado no
ramo. No caso, cópias da proteína S fabricadas em laboratório (e
ligeiramente modificadas para aumentar a eficiência do ensaio) são
colocadas numa placa especial. As amostras obtidas dos pacientes reagem
com a proteína S e, caso elas contenham os anticorpos, eles ficarão
grudados na proteína S, confirmando então a presença da reação
imunológica (de defesa) diante do vírus.
O teste conseguiu distinguir com facilidade as amostras obtidas antes
da chegada da pandemia das de pessoas que tiveram a Covid-19. Mais
importante ainda, também não houve ambiguidade no caso de pessoas que já
tinham sido infectadas por outros tipos de coronavírus que circulam há
muito tempo na população humana, causando resfriados. Exames errados por
causa da chamada reatividade cruzada —ou seja, anticorpos produzidos
para combater um tipo de coronavírus reagindo com proteínas de outra
variante— estão entre os obstáculos que essa tecnologia precisa vencer
antes de ser usada de forma ampla.
Testes desse tipo não servem para acompanhar o avanço da pandemia em
tempo real —embora os anticorpos tenham sido detectados a partir de
quatro dias depois do início dos sintomas, isso não é suficiente para
rastrear contatos e isolar pacientes com eficácia.
Segundo Krammer, a importância do teste de anticorpos é, em primeiro
lugar, saber quem já está imune ao vírus na população, em especial entre
os profissionais de saúde. Os que já têm imunidade poderão trabalhar
mais tranquilos e, principalmente, não transmitirão o vírus para novos
pacientes. Os anticorpos obtidos a partir das pessoas que se curaram
também podem ter uso terapêutico no futuro, além de ajudarem a entender
os efeitos precisos do coronavírus sobre o sistema de defesa do
organismo.
“Outra mensagem importante do trabalho é que parece que todos temos
sistemas de defesa ‘ingênuos’ diante do Sars-CoV-2, ou seja, não temos
imunidade nenhuma contra ele.” Conforme a pandemia avançar, será
importante entender como essa imunidade vai se espalhar pela população.
Isso, é claro, se a imunidade ao vírus de fato for permanente.
Considerando o exemplo dos vírus influenza, causadores da gripe, não é
impossível que a evolução do vírus, numa escala de alguns anos, produza
novas variantes que não seriam mais combatidas com a mesma eficácia pelo
sistema imunológico, levando a reinfecções. É por isso que as pessoas
tomam a vacina da gripe todos os anos.
Uma possibilidade mais preocupante são relatos de casos, por enquanto
esparsos, nos quais a Covid-19 parece ter voltado depois de uma
aparente cura, após semanas ou poucos meses. A hipótese predominante
hoje, porém, é que isso não seria uma reinfecção de curto prazo, mas uma
falsa cura: o vírus teria se protegido em reservatórios do organismo e
voltado a agir com mais força depois de algum tempo. Só mais dados
permitirão que os cientistas verifiquem o que está acontecendo de fato.
ESPERANÇA! Cientistas Mapeiam Anticorpos Contra o Novo Coronavírus no Sangue Humano
Reviewed by Canguaretama De Fato
on
22.3.20
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