Depois da Decisão do STF, Ao Ficar Livre, Ex-presidente Lula Planeja Viajar pelo Brasil Para Reorganizar Oposição ao governo de Bolsonaro
Foto: Edilson Dantas / O Globo
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula vai pedir nesta
sexta-feira sua imediata liberdade à 12ª Vara de Execuções Penais (VEP)
de Curitiba. Caberá à juíza Carolina Lebbos autorizar a soltura do
petista e de outros presos na mesma situação, como o ex-ministro José
Dirceu .
A decisão, no entanto, não é automática. O juiz de execução pode
ainda decretar prisão preventiva do petista, se assim for pedido pelo
Ministério Público e se considerar que existem os requisitos previstos
em lei para isso — como, por exemplo, periculosidade do réu e risco de
fuga. Não há prazo definido em lei para que ele se manifeste.
Caso Lula seja solto hoje, ele terá ficado 580 dias na cadeia. Nas
conversas que manteve nas semanas que antecederam a decisão de ontem do
STF, Lula deixou claro aos seus aliados que, ao ganhar a liberdade, dois
pontos vão marcar a sua atuação política: não fará inflexão ao centro
nem empunhará a bandeira de deslegitimar o governo do presidente Jair
Bolsonaro , como em eventual campanha por impeachment.
Nova oposição
Lula planeja viajar o país e tentar fortalecer a oposição ao governo.
Também está previsto um giro internacional para se encontrar com
personalidades que se manifestaram contra a sua prisão. Mas o primeiro
ato do petista ao ser libertado será em Curitiba , em frente à Polícia
Federal . O ex-presidente quer prestar uma homenagem aos simpatizantes
que ficaram em vigília no local durante um ano e sete meses. A
expectativa é que também ocorra um comício em São Paulo ou São Bernardo
do Campo, em seguida.
— Ao sair daqui, ele está querendo preparar um grande pronunciamento à
nação — afirmou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST,
depois de visitar o petista em sua cela na Polícia Federal do Paraná, na
tarde ontem.
A possibilidade de adotar um caminho político de centro chegou a ser
discutida por petistas próximos a Lula. Com Bolsonaro seguindo por uma
linha que os dirigentes do partido classificam como de extrema-direita,
uma inflexão ideológica poderia ajudar o PT a recuperar o terreno
perdido na sociedade. Mas, após debates, a conclusão foi que a legenda
enfrenta rejeição muito mais pelas denúncias de corrupção e pela
acusação de que as medidas econômicas do governo Dilma Rousseff
quebraram o país do que propriamente por questões ideológicas.
— O Lula me falou: avisa lá para os sem-terra que eu vou sair mais à esquerda do que eu entrei — disse Rodrigues.
A recuperação da imagem do PT se dará, na visão dos dirigentes
partidários, aos poucos, impulsionada pelo desgaste de Bolsonaro. Na
estratégia traçada, Lula pode impulsionar esse sentimento ao frisar em
seus discursos as consequências para a população das medidas que vêm
sendo adotadas, principalmente na área econômica. Um antigo aliado
destaca a “capacidade de Lula de explicar de maneira simples um assunto
complexo”. Esse mesmo aliado aposta que Lula evitará entrar em
bate-bocas com o atual presidente.
Esses embates poderiam impulsionar um antipetismo e promover um
reagrupamento do campo político de Bolsonaro, que vem se dividindo desde
o início do mandato.
Moro na mira
Mesmo com o desgaste do governo, Lula e seus aliados não entendem que
exista clima para mobilizar a sociedade para abreviar o mandato do
atual presidente por meio de um impeachment. O PT tem 54 dos 513
deputados.
A mesma lógica vale para a decisão do partido de não tentar no
momento levantar bandeira por mudanças na Lei da Ficha Limpa, o que
permitiria a Lula recuperar os seus direitos políticos e se candidatar a
presidente em 2022. A decisão de ontem do STF não mexeu nisso.
O caminho visto pelos petistas como mais possível para que Lula
recupere o direito de se candidatar está no julgamento da suspeição do
então juiz Sergio Moro. Assim, mesmo em liberdade, o ex-presidente
manterá o discurso de que os processos contra ele são resultado de
perseguição política para pressionar o Supremo a colocar em julgamento o
habeas corpus que questiona a atuação do ex-magistrado na condução do
processo do tríplex do Guarujá.
Mas, apesar de animar o partido, há gente no PT mais cuidadosa. Um
deputado federal influente diz que parte da direção se ilude achando que
basta Lula sair da cadeia para que todos os integrantes do partido se
resolvam. O partido precisa, segundo esse parlamentar, definir a sua
tática política e eleitoral e ter claro que ainda enfrenta resistência
na sociedade.
Antes de eventualmente soltar o ex-presidente, a VEP ainda pode
solicitar a manifestação do Ministério Público Federal (MPF) e da
Polícia Federal sobre o caso, e até mesmo acerca da logística de uma
eventual saída do petista de Curitiba para São Paulo.
— Uma vez que existe um juiz de execução penal, cabe a este tomar a
decisão sobre a necessidade de liberação do condenado. Ou seja, a defesa
faz o pedido e o juiz da VEP o aprecia levando em consideração a
decisão do STF. Não há um prazo definido em lei , mas a urgência das
questões discutidas exige resposta rápida — diz o doutor em direito
penal pela USP Conrado Gontijo.
O professor de Direito penal da USP Gustavo Badaró, por sua vez,
entende que o pedido da defesa deve ser feito diretamente ao Tribunal
Regional Federal da 4ª(TRF4), que foi quem manteve a condenação do
ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá e deu a ordem para a
execução de sua prisão. Nesse caso, após ser questionado pela defesa, o
TRF-4 comunicaria a VEP sobre a necessidade de cumprir a decisão do STF e
soltar o petista.
O ex-presidente vinha evitando nos últimos dias falar diretamente
sobre a possibilidade de liberdade para não correr o risco de se
frustrar. Mesmo assim, deixou transparecer algumas estratégias e chegou
pedir que as suas falas em entrevistas na cadeia fossem analisar para
saber se o tom estava adequado.
Apoio da Argentina
Lula deve ajudar o PT a tentar viabilizar candidaturas para as
eleições municipais do ano que vem. O partido tem enfrentado dificuldade
para lançar nomes com boas chances em cidades importantes. A
expectativa é que o ex-presidente seja um cabo eleitoral ativo. Dentro
da linha de ação definida, os aliados de Lula entendem que será
necessário recuperar o eleitorado pobre que aderiu ao bolsonarismo.
Na noite da quinta-feira, o presidente eleito da Argentina, Alberto
Fernández, se comunicou com dirigentes do PT para expressar sua
satisfação pela decisão do STF .
#Fonte: O Globo
Depois da Decisão do STF, Ao Ficar Livre, Ex-presidente Lula Planeja Viajar pelo Brasil Para Reorganizar Oposição ao governo de Bolsonaro
Reviewed by Canguaretama De Fato
on
8.11.19
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