© Foto: Carl de Souza/AFP/Getty
Corrupção, formação de quadrilha, trabalho escravo, violência, grilagem, roubo de madeira. O desmatamento ilegal
da Amazônia se insere em um conjunto de crimes que vai muito além do
ambiental e envolve custos – e ganhos – milionários. Investigações da
força-tarefa Amazônia, do Ministério Público Federal, demonstram que há
elaboradas organizações criminosas por trás do problema. Nesse processo,
as queimadas são apenas a sua face mais visível.
“Não
vou ignorar que existe sim o desmatamento da pobreza, que é para fins
de subsistência, mas o que realmente dá volume, o desmatamento de
grandes proporções, que é o objeto de preocupação, é outro. No sul do Amazonas vimos
cortes de 200, 500, 1 mil hectares (cada hectare equivale a cerca de um
campo de futebol) de uma só vez. E isso quem faz é o fazendeiro já com
rebanho considerável que quer expandir para uma área que não é dele. É o
grileiro que invade uma terra pública. Não tem nada a ver com pobreza”,
disse ao Estado o procurador Joel Bogo, no Amazonas.
O
custo para fazer um desmatamento desses é alto. Segundo ele, é de no
mínimo R$ 800 por hectare, mas pode chegar a R$ 2 mil. “Depende das
condições. Se tem muitas motosserras, por exemplo, ou se usa correntão.
Um trator esteira, para abrir os ramais (estradas), custa centenas de
milhares de reais. Em um desmate no Acre de 180 hectares, o Ibama
encontrou 35 pessoas trabalhando ao mesmo tempo. Em condições análogas à
escravidão”, relata.
O problema é
reconhecido inclusive por parte do agronegócio, que veio a público na
semana que passou pedir para que o governo combata o desmatamento e as
queimadas. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, entidade
que reúne mais de 200 representantes do agronegócio, de entidades de
defesa do meio ambiente, da academia e do setor financeiro, entregou um
manifesto ao presidente Jair Bolsonaro, dizendo que isso é necessário para que o Brasil possa ser um “líder agroambiental”.
“Já
vivemos períodos em que uma queda significativa do desmatamento se deu
em meio a um ciclo de saltos de produtividade na agropecuária. Esse
histórico mostra que não é necessário desmatar para aumentar a produção
agrícola. O agronegócio está sendo prejudicado por quadrilhas que atuam
na ilegalidade, manchando a reputação do setor, aumentando a insegurança
jurídica e a concorrência desleal para produtores e empresas”, aponta o
manifesto.
Em pouco mais de um ano, o
esforço da Procuradoria, que envolveu o trabalho de 15 procuradores em
Amazonas, Rondônia, Amapá, Acre e Pará, resultou em seis operações com ações penais já ajuizadas. Só no Amazonas, 33 pessoas foram denunciadas criminalmente.
Os
ganhos dependem do que vai se fazer com o terreno depois. Alguns dos
casos investigados pela força-tarefa envolvem altas somas nos mais
variados crimes ambientais. Um caso é o de uma família denunciada por
extrair ilegalmente ouro ao longo de quase dez anos em garimpo no Amapá.
A Polícia Federal estimou que o grupo tenha lucrado cerca de R$ 19
milhões. Em outro caso, de extração de madeira na terra indígena
Karipuna, em Rondônia, o dano ambiental foi calculado em mais de R$ 22
milhões.
Nove pessoas e duas empresas
foram denunciadas por invadir e lotear a terra indígena. Laudo da
Política Federal descreveu grandes áreas desmatadas e construções sendo
feitas para ocupação humana, sob a falsa promessa de regularização da
área. A operação descreve que o desmate no local saltou de 1.195,34
hectares (de 2016 a 2017) para 4.191,37 hectares no ano seguinte.
AMAZÔNIA QUEIMA!! INVESTIGAÇÕES REVELAM QUADRILHAS E GANHO MILIONÁRIO POR TRÁS DO DESMATE
Reviewed by Canguaretama De Fato
on
31.8.19
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