
Foto: Leo Aversa / Divulgação.
Ao agraciar Chico Buarque
com o Prêmio Camões, os jurados da 31ª edição do prêmio de literatura
em língua portuguesa – concedido desde 1988 em parceria dos governos do
Brasil e de Portugal – foram sutis ao justificar a láurea com o uso da
palavra “transversalidade”.
Chico Buarque ganha o
31º Prêmio Camões “pela qualidade e transversalidade da obra”. Em bom
português, isso quer dizer que o artista carioca está sendo premiado
também pelo conjunto de obra musical que, desde que foi apresentada nos
anos 1960, já se revelou singular, primorosa no uso da palavra, ainda
que tenha sido (mais) depurada com o tempo.
Como escritor, Chico
cruzou o universo da música desde 1967, escrevendo peças, livros e
romances. Mas somente se assumiu plenamente escritor em 1991, ano da
edição do primeiro romance do artista, Estorvo.
Recebido com
respeito reverente, mas sem real entusiasmo, o livro Estorvo foi lançado
quando o escritor já era beneficiado pelo peso do nome do compositor,
àquela altura já devidamente consagrado como um dos maiores criadores da
música brasileira de todos os tempos.
Não se trata de desmerecer a produção de Chico Buarque
como romancista. Mas a concessão do Prêmio Camões ao artista deixa no
ar uma pergunta impossível de ser respondida: se não existisse a obra do
compositor, o escritor estaria sendo premiado pelos romances Estorvo
(1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite derramado (2009) e O
irmão alemão (2014)?
A resposta não pode ser dada simplesmente
porque o compositor existe e é extraordinário, não somente como
melodista – mérito muitas vezes negligenciado em virtude das letras
invariavelmente precisas – mas como artesão de versos que são, por si
só, obras de arte literária.
Enfim, o nome de Chico Buarque de Hollanda
tem peso. E pesou na balança dos jurados porque esse nome carrega o
peso da obra musical, da coerente postura ideológica – mantida sobretudo
em épocas polarizadas como a atual – e das peças de teatro que escreveu
com igual maestria.
Os romances são parte do conjunto dessa obra.
E uma parte que, embora ainda em progresso, no todo, não é nem nunca
foi a mais interessante ou relevante na construção da grande obra do
artista na transversal do tempo.
PARABÉNS!! CHICO BUARQUE GANHA O 31º PRÊMIO CAMÕES
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
23.5.19
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