Crédito da foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Em 2018, os brasileiros presenciaram dois estados
sofrerem uma intervenção federal por causa de problemas financeiros e
na segurança. O ano teve também a morte da vereadora Marielle Franco,
caso ainda em investigação, e o Museu Nacional do Rio ardendo em chamas.
Na área da saúde, doenças consideradas superadas e controladas no país -
sarampo e pólio - voltaram a assustar com surgimento de casos. E no fim
do ano, centenas de mulheres denunciaram o médium João de Deus,
conhecido nacionalmente e fora do país, por crimes sexuais.
Relembre fatos que marcaram o país no ano de 2018:
Intervenção na segurança do Rio
A crise financeira do Rio de Janeiro, que impactou diretamente nos
indicadores de violência, levou o presidente Michel Temer a decretar a
intervenção federal na segurança pública do estado, no dia 16 de
fevereiro. Em cerimônia no Palácio do Planalto, Temer nomeou como
interventor o general de Exército Walter Souza Braga Netto. A
intervenção se estenderá até o dia 31 de dezembro. Com a medida, o
comando das polícias civil e militar, dos bombeiros e do sistema
penitenciário foi unificado, e o governo federal investiu na estrutura
do sistema de segurança do Rio de Janeiro, que estava sucateada. Em
agosto, foram destinados R$ 1,2 bilhão. No último dia 27, o interventor
federal disse que após dez meses de trabalho a intervenção atingiu os
objetivos de recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança
pública e baixar os índices de criminalidade.
Fotos: Agência Brasil
Morte de Marielle Franco
Ativista e defensora dos direitos humanos, a vereadora do Rio de
Janeiro Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Pedro Gomes foram
assassinados a tiros, em 14 de março, no centro da capital fluminense,
depois de um evento político. O crime gerou comoção nacional e
internacional. A família de Marielle Franco foi recebida pelo papa
Francisco. As investigações apuram o envolvimento de políticos,
milicianos e adversários de Marielle. A pedido da procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, a Polícia Federal apura se uma organização
criminosa estaria tentando desviar e interferir nas investigações do
crime. Até o momento, nenhum autor e mandante dos assassinatos foram
identificados e presos.
Sarampo e pólio
O ano de 2018 marcou o retorno do sarampo ao Brasil. O país que, em
2016, recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado
de eliminação da circulação do vírus, fechou o ano com mais de 10 mil
casos confirmados. A cepa de sarampo que circula no país é a mesma
identificada na Venezuela. Em setembro, a Opas chegou a alertar que o
Brasil pode perder o certificado de eliminação do vírus, se o surto se
manter por um período superior a 12 meses. Os primeiros casos da doença
foram identifcados, na Região Norte, no início do ano.
Outra doença que voltou a assombrar o país foi a poliomielite, também
conhecida como paralisia infantil. Em junho, a Sociedade Brasileira de
Pediatria alertou para casos suspeitos de pólio na Venezuela e reforçou a
necessidade de manutenção da taxa de cobertura vacinal acima de 95%. No
mês seguinte, o Ministério da Saúde informou que 312 municípios tinham
cobertura vacinal contra a pólio abaixo dos 50%. Em agosto, uma campanha
de vacinação foi iniciada contra a pólio e o sarampo para todas as
crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos – inclusive as que já
haviam recebido a dose. Com isso, a meta de vacinar 95% da
população-alvo foi alcançada.
Venezuelanos no Brasil
A crise migratória desencadeada pela chegada contínua de venezuelanos
no Brasil reuniu episódios de tensão, disputas políticas e judiciais,
assim como de violência. As agências das Nações Unidas para os
Refugiados (Acnur) e para Migrações (OIM) estimam que 3 milhões de
pessoas deixaram a Venezuela rumo a distintos destinos. Só para o
Brasil, vieram 85 mil a maioria para Roraima.
O episódio mais marcante foi um ataque em agosto quando venezuelanos
foram expulsos de barracas e abrigos. Os agressores atearam fogo em
objetos. A agressão ocorreu após um assalto a um comerciante que foi
espancado. Quatro venezuelanos foram apontados como suspeitos do
assalto.
Diante do cenário, o governo de Roraima apelou para o fechamento da
fronteira com a Venezuela. O presidente Michel Temer e o Supremo
Tribunal Federal (STF) se opuseram. O governador eleito e interventor em
Roraima, Antonio Denarium, defende restrições aos imigrantes. No
esforço de buscar alternativas, o governo federal implemenou desde
abril, junto com o Acnur, o processo de interiorização dos venezuelanos,
transferindo-os para 29 cidades, como São Paulo, Manaus, Brasília,
Curitiba e Rio de Janeiro.
Escola sem Partido
Após diversas tentativas de votação em comissão especial na Câmara
dos Deputados, o projeto de lei (PL) conhecido como Escola sem Partido
acabou sendo arquivado. Após as eleições, o relator, deputado Flavinho
(PSC-SP) apresentou um substitutivo. Desde então, a comissão tentou
aprovar o texto, sem sucesso. As sessões foram marcadas por tumultos e
bate-bocas tanto entre parlamentares quanto entre manifestantes pró e
contrários ao projeto. Para voltar a ser apreciado, o projeto precisa
ser desarquivado e uma comissão deverá ser composta.
Reforma do Ensino Médio e Plano Nacional de Educação
O governo federal aprovou este ano mais normativas para colocar em
prática as mudanças na oferta do ensino médio no país: a Base Nacional
Comum Curricular e as Diretrizes Curriculares Nacionais. O novo modelo
deverá chegar às salas de aula até 2021, e prevê que todos os estudantes
do Brasil, de escolas públicas e particulares, passarão por uma
formação comum e por uma formação específica, que poderá ser em
linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino
técnico.
O MEC também entregou, este ano, ao Conselho Nacional de Educação a
chamada Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação
Básica e uma proposta para revisão da estrutura dos cursos de pedagogia.
Aprovada e sancionada em 2014, a lei do Plano Nacional de Educação
(PNE) completou, em 2018, quatro anos de vigência. A lei prevê metas
para serem cumpridas até 2024 para melhorar a qualidade da educação
infantil até a pós-graduação. Até o final da vigência, o PNE prevê metas
intermediárias.
O relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas PNE, divulgado
este ano, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), mostrou que o país tem ainda muitos desafios,
entre eles, o acesso à educação. Segundo o Inep, o Brasil aumentou a
porcentagem de crianças e adolescentes na escola, mas ainda precisa
incluir pelo menos 1,95 milhão de pessoas entre 4 e 17 anos nos sistemas
de ensino. Pelo PNE, até 2016, o país teria que universalizar a
pré-escola e o ensino médio.
Incêndio do Museu Nacional do Rio
Em 2 de setembro, um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu
Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte do Rio
de Janeiro. O acervo reunia cerca de 20 milhões de itens, como coleções
de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia - entre
eles o crânio de Luzia, fóssil mais antigo encontrado no continente
americano. Muitas peças foram destruídas, sendo que 1.500 peças e
conjuntos foram recuperados - processo que permanece. O Ministério da
Educação (MEC) repassou R$ 15 milhões para as obras emergenciais e
elaboração do projeto executivo de recuperação, a cargo da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Por
meio de emendas parlamentares da bancada do Rio de Janeiro, serão
repassados R$ 55 milhões, além de 190 mil euros doados pelo governo
alemão.
Saída de Cuba do Mais Médicos
Em novembro, Cuba anunciou a saída de seus profissionais do Programa
Mais Médicos. O país tomou a decisão após exigências feitas pelo
presidente eleito Jair Bolsonaro para a continuidade dos médicos no
programa – como que fizessem o Revalida, exame de validação do diploma. A
vinda dos médicos cubanos foi acertada por meio de convênio firmado
entre os governos brasileiro e de Cuba, em 2013, por meio da Organização
Pan-americana de Saúde (Opas), e que dispensava a validação do diploma
dos profissionais. Com a saída dos profissionais, o Ministério da Saúde
lançou editais para substituição dos 8.517 cubanos, que atuavam em 2.824
municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI).
Inicialmente, concorreram apenas médicos brasileiros com registro no
país. Um novo edital, em andamento, seleciona também profissionais
formados no exterior.
Moro deixa Lava Jato
No dia 1º de novembro, o juiz federal Sergio Moro, que comanda as
investigações da Operação Lava Jato, aceitou o convite do presidente
eleito Jair Bolsonaro para assumir o ministro da Justiça. O juiz deixou
22 anos de magistratura para se tornar um dos principais nomes do novo
governo. A ida de Moro para o Executivo dividiu opiniões e chegou a ser
alvo de questionamento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Intervenção em Roraima
A 20 dias do encerramento do mandato da governadora Suely Campos
(PP), o presidente Michel Temer determinou a intervenção federal em
Roraima, devido à crise na segurança pública e no sistema penitenciário
do estado, além do desequilíbrio nas finanças. Temer nomeou como
interventor o governador eleito Antonio Denarium (PSL). A intervenção
federal foi anunciada na noite do dia 7 de dezembro, após o presidente
ter conversado com a governadora afastada do cargo. A decisão foi
referendada pelo Conselho da República e pelo Conselho de Defesa
Nacional e o decreto de intervenção passou pelo Congresso Nacional.
O Palácio do Planalto liberou R$ 225,7 milhões para pagamento dos
salários dos servidores de Roraima. Em alguns setores, a folha de
pagamento estava atrasada desde outubro, o que provocou paralisaçãoes e
protestos, incluindo policiais civis e agentes penitenciários.
Segundo avaliação feita pelas autoridades estaduais, incluindo
Denarium, a situação do estado se agravou com a chegada de migrantes que
fugiam da recessão na Venezuela, impactando na oferta de serviços
públicos, especialmente nas áreas de educação, saúde e segurança
pública.
Acusações contra João de Deus
Conhecido nacionalmente e fora do país, o médium goiano João Teixeira
de Faria, João de Deus, 76 anos, é acusado por centenas de mulheres de
ter cometido abusos sexuais contra elas durante atendimentos espirituais
na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Promotores de Goiás
contabilizavam 596 contatos feitos por supostas vítimas, vindos
inclusive de outros estados e fora do país. João de Deus nega as
acusações.
Uma semana após as denúncias se tornarem públicas, o Tribunal de
Justiça de Goiás determinou a prisão preventiva do médium, que se
entregou quase três dias depois e está preso no Complexo Prisional de
Aparecida de Goiânia, à espera de que o Supremo Tribunal Federal (STF)
aprecie seu pedido de liberdade.
Além das acusações de crimes sexuais, policiais civis encontraram
mais de R$ 1,6 milhão guardados em compartimentos falsos em endereços
ligados ao médium, além de joias e armas. O porte ilegal das armas de
fogo levou a Justiça estadual a decretar uma nova prisão do médium, que
foi substituída por prisão domiciliar. Mesmo com a decisão, João de Deus
permanece preso por causa das demais acusações. Ontem (28), a Justiça
acatou denúncia contra o médium por violação sexual e estupro de
vulnerável.
Battisti foragido
Em 13 de dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz
Fux determinou a prisão do italiano Cesare Battisti, condenado à prisão
perpétua em seu país. No dia seguinte, o presidente Michel Temer assinou
a extradição do italiano, medida que foi elogiado pelo governo da
Itália. Battisti foi solto da Penitenciária da Papuda, em Brasília, em 9
de junho 2011. Ele voltou a ser preso em outubro do ano passado na
cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, ao tentar sair do país
ilegalmente com cerca de R$ 25 mil em moeda estrangeira. Desde a
determinação de sua extradição, Battisti está foragido.
Foto: Nacho Doce Reuters Direitos Reservados
Novo presidente do STF e reajuste salarial
Em setembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias
Toffoli tomou posse no cargo de presidente da Corte, sucedendo Cármen
Lúcia. Ele ficará no comando da Corte até 2020. Os ministros do STF e a
procuradora-geral da República tiveram os salários reajustados, passando
de R$ 33,7 mil para R$ 39 mil. O aumento foi sancionado por Temer após
acordo com a Suprema Corte para a revogação do auxílio-moradia a juízes
de todo o país. Em dezembro, o CNJ aprovou nova resolução para
regulamentar o pagamento de auxílio-moradia aos magistrados, no valor
máximo de R$ 4.377,73.
Reportagem de Luiza Damé, Paula Labossiere, Mariana Tokarnia e Alex Rodrigues - Agência Brasil
Retrospectiva: Relembre Fatos que Marcaram o Brasil em 2018
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
31.12.18
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