Justiça Global Denuncia Brasil à ONU e OEA por Intervenção Militar, Decretada Por Michel Temer no Rio de Janeiro
A organização de Direitos Humanos Justiça Global enviou um informe à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciando a intervenção militar decretada pelo Governo Federal no Estado do Rio de Janeiro.
O documento aponta diversas irregularidades no decreto que
instituiu a intervenção, além de sinalizar sua absoluta
incompatibilidade com os tratados e convenções internacionais dos quais o
Brasil é signatário.
Em face da gravidade da medida e de suas prováveis
consequências, a denúncia pede a criação de um canal de diálogo
permanente dos organismos internacionais com a sociedade civil
brasileira que está dedicada à crítica, ao monitoramento e denúncia
desta medida de exceção, assim como uma manifestação pública dos
organismos internacionais sobre as violações de direitos no país.
Para a Justiça Global, a ruptura institucional instaurada
pela medida de intervenção insere-se em um contexto mais amplo de
afrouxamento das garantias constitucionais, dos princípios democráticos e
das políticas sociais no país, levado a cabo por um governo com déficit
de apoio popular e de legitimidade política. A gravidade desta medida
ameaça, assim, os direitos e garantias individuais de toda a população
do Rio de Janeiro, sobretudo as populações negras e pobres, moradoras de
favelas e periferias urbanas.
A denúncia internacional insere-se em um contexto de ampla
mobilização da sociedade civil contra a intervenção militar. A
preocupação crescente com as violações que ela pode desencadear
amplifica-se ainda mais à luz de episódios anteriores de utilização das
Forças Armadas como agentes de segurança pública na cidade e no estado
do Rio de Janeiro. O documento enviado aos organismos internacionais
recupera alguns exemplos deste trágico desvirtuamento das funções
constitucionais das tropas militares, como a invasão à favela da Rocinha
em setembro de 2017, e a operação militar em novembro do mesmo ano na
favela do Salgueiro, em São Gonçalo.
“A utilização das Forças Armadas na segurança pública na
cidade do Rio de Janeiro tem se tornado uma constante durante o período
de redemocratização. Esta prática tem promovido um verdadeiro festival
de violações de direitos humanos, sobretudo para a população negra e
pobre”, afirma Sandra Carvalho, coordenadora da Justiça Global.
“Um dos
pontos de maior relevo em nossa denúncia é o fato de que a Constituição
não autoriza que a autoridade política dos estados seja transferida da
esfera civil para a esfera militar, mas tão somente da esfera estadual
para a esfera federal. Ao definir que ‘o cargo de Interventor é de
natureza militar’, o decreto de intervenção afronta a ordem
constitucional”, conclui Sandra.
A denúncia destaca dois episódios que evidenciam a gravidade
e necessidade de alerta quanto à transferência de poder para um comando
militar. O primeiro se trata da declaração do Comandante do Exército
brasileiro de que “[os] militares precisam ter garantia para agir sem o
risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”, referindo-se à Comissão
Nacional da Verdade, que foi responsável pela investigação e
documentação dos crimes cometidos pelos agentes do Estado brasileiro
durante os anos da ditadura militar no país.
O outro episódio,
igualmente grave, consiste na mensagem do chefe do centro de comunicação
social do Exército Brasileiro sobre a intervenção militar no Rio de
Janeiro, direcionada a todas as organizações militares do país, que
transmitiu o seguinte recado do Comandante do Exército às suas tropas:
“O Comandante do Exército entende que a solução exigirá comprometimento,
sinergia e sacrifício dos poderes constitucionais, das instituições e,
eventualmente, da população”.
#Fonte: Brasil 247
Justiça Global Denuncia Brasil à ONU e OEA por Intervenção Militar, Decretada Por Michel Temer no Rio de Janeiro
Reviewed by CanguaretamaDeFato
on
24.2.18
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