Dois juristas, ex-integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso,
criticaram, em entrevista à "BBC Brasil", a condução coercitiva do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor à Polícia Federal na
manhã desta sexta-feira (4). Ambos também consideram errados os recentes
vazamentos de documentos sigilosos da operação Lava Jato, que investiga
esquema de corrupção na Petrobras.
A medida contra Lula foi determinada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela condução da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná.
O ex-presidente é investigado por supostamente ter sido favorecido por
empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, por meio
de doações e contratações em palestras e com reformas de imóveis. Lula
nega e diz que não é dono das propriedades investigadas.
No total, foram expedidos 33 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.
São alvos desses mandatos parentes do ex-presidente e pessoas próximas a
ele, como Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula.
José
Gregori, que foi ministro da Justiça (2000-2001) e secretário de
Direitos Humanos (1997-2000) de FHC, considerou a condução coercitiva um
"exagero". Segundo ele, o correto é aplicar essa medida apenas se a
pessoa tiver previamente se recusado a atender uma convocação para
depor, o que não ocorreu no caso de Lula.
"Não conheço na nossa
legislação a figura da condução coercitiva sem que tenha havido antes a
convocação. A praxe tem sido sempre essa: você convida a pessoa a
comparecer e, se ela não comparecer, então na segunda vez vem a
advertência de que ela poderá ser conduzida coercitivamente", afirmou.
"Você (fazer) logo a condução coercitiva é um exagero. E na realidade o
que parece é que esse juiz (Sergio Moro) queria era prender o Lula. Não
teve a ousadia de fazê-lo e saiu pela tangente."
Já Walter
Maierovitch, ex-secretário Nacional Antidrogas de FHC, viu "ilegalidade"
na decisão de Moro. "Acho que buscas e apreensões são atividades
normais em investigação. Agora, o que eu eu estranho, como jurista, é a
condução coercitiva do Lula. É algo surpreendente e preocupante", notou.
"Essa vergonha está acontecendo no país é uma coisa que precisa ser
apurada, mas me preocupa quando tem um desvio de legalidade",
reforçou. Ele diferencia o caso desta sexta-feira da convocação do
Ministério Público de São Paulo, da qual Lula recorreu para não
comparecer semanas atrás, quando não havia decisão judicial. Segundo
Maierovitch, o MP não tem autoridade prevista em lei para fazer esse
tipo de convocação, de modo que Lula podia não atender ao pedido para
falar.
"Precipitação"
Para Maierovitch, houve uma
certa precipitação na decisão, já que no momento a ministra Rosa Weber,
do Supremo Tribunal Federal, analisa um pedido de Lula para esclarecer
se a investigação deveria ser conduzida na Justiça Federal, em Curitiba,
ou no Ministério Público de São Paulo, que também vem apurando o caso.
Em nota, do Instituto Lula citou essa questão e disse que a "Lava Jato
desrespeita o Supremo e compromete sua credibilidade" com a ação desta
sexta. "Ao precipitar-se em ações invasivas e coercitivas nesta manhã,
antes de uma decisão sobre estes pedidos (ao STF), a chamada
força-tarefa cometeu grave afronta à mais alta Corte do país, afronta
que se estende a todas as instituições republicanas", disse a nota.
Ministro da Justiça de FHC vê Exagero em Ação da Policia Federal Contra Lula
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