NASCIMENTO DE CRIANÇAS: Desassistência no Interior do RN, Provoca Invasão na Capital

No Rio Grande do Norte, o nascimento de um bebê envolve, além das horas em trabalho de parto, muitos quilômetros a serem percorridos pelas mães. Mesmo na Região Metropolitana de Natal, onde há centros de parto e maternidades, a assistência materno-infantil é quase nula. A solução é recorrer à capital. A reportagem da TN visitou a estrutura disponível em cinco municípios da RMN para verificar a realidade encontrada pelas mães. Veja abaixo:

Maternidade Felipe Camarão (Natal)
Estrutura: 16 leitos
Capacidade: até 100 partos
Recebeu partos de: Lagoa Salgada, Macaíba, Barcelona e São Pedro
Magnus NascimentoMaternidade Felipe Camarão (Natal)Maternidade Felipe Camarão (Natal)

A maternidade municipal Felipe Camarão foi a primeira a voltar-se para o parto normal na capital – foi premiada, em 2002, por adotar técnica de humanização Entretanto, o prédio é antigo, com infiltrações; e falta de centro cirúrgico limita o público. Mesmo assim, a unidade é uma saída para as mães da região Oeste de Natal (40% dos partos), além do interior.
Mesmo com a portaria que restringe o atendimento para outros municípios, na última quinta-feira (14), seis pacientes internadas eram do interior. “A gente nunca vai deixar de atender emergência”, diz a diretora Anailde da Silva Neto. “Eu acredito que enquanto a situação não melhorar na região metropolitana, elas vão migrar sempre para Natal”, completa.

Maria Daniele, de apenas 18 anos, percorreu dois municípios antes de chegar à maternidade de Felipe Camarão: São Tomé e São Paulo do Potengi. “Só não fui para Santa Cruz porque ligaram para lá e disseram que não tinha vaga”, conta a jovem mãe de Anthony Gabriel. A maternidade, lotada naquela quinta-feira, abrigada 10 mães no alojamento conjunto e duas no corredor.

Hospital-Maternidade Café Filho (Extremoz)
Estrutura: 6 leitos de obstetrícia e 4 pediátricos
Partos realizados: 24 em 2015
Encaminhamentos para Natal: 240
Magnus NascimentoHospital-Maternidade Café Filho (Extremoz)Hospital-Maternidade Café Filho (Extremoz)

Inaugurada em 15 de setembro de 2012, a maternidade do hospital Café Filho é o oposto de toda a rede de assistência materno-infantil: praticamente vazia. Assim como a parte de urgência e emergência, o silêncio e calmaria estranham na maternidade. Em três anos de existência, o centro de parto realizou pouco mais de 200 procedimentos. De acordo com a diretoria do hospital, até a última quarta-feira (13), todos os leitos da maternidades estavam desocupados.

O centro de parto não conta com centro cirúrgico ou unidade de terapia intensiva. Os únicos partos recebidos são de baixo risco. Qualquer complicação, a grávida é encaminhada para o hospital José Pedro Bezerra. Apesar do crescimento do município, a Prefeitura não estuda nenhum tipo de investimento ou ampliação na capacidade da unidade. “Teríamos que mandar toda a planta do hospital e passar pela Suvisa para poder fazer o centro cirúrgico”, justifica a secretária municipal de saúde, Cíntia Torquato. “Não temos como fazer o controle das mulheres que chegam em Natal, elas vão por conta própria.”

Talita Batista (foto), 26 anos, chegou na maternidade de Extremoz. em 30 de abril. Nem mesmo pôde entrar. “Cheguei e me mandaram para Natal. Fui na ambulância com outra grávida, minha mãe e a enfermeira”, conta. Ao chegar no Santa Catarina, a dona de casa precisou aguardar um dia inteiro por uma vaga.

Hospital-Maternidade Belarmina Monte (São Gonçalo do Amarante)
Estrutura: 14 leitos de obstetrícia
Capacidade: 140 partos/mês
Encaminhamentos para Natal: 358
Magnus NascimentoHospital-Maternidade Belarmina Monte (São Gonçalo do Amarante)Hospital-Maternidade Belarmina Monte (São Gonçalo do Amarante)

Na última quarta-feira (13), Eberlândia Correia, 26 anos, chegou à maternidade Belarmina Monte às 6 horas da manhã para fazer uma cesárea. Era quase meio-dia quando a gestante recebeu uma avaliação da médica. “A médica chegou e disse que eu voltasse amanhã porque não tinha vaga”, conta. Mãe de outras duas crianças que também nasceram por cesárea, o único caminho para ela era a cirurgia. Questionada o que achava do tratamento do hospital, ela não reclamou. “Lá no Santa Catarina eles deixam todo mundo abandonado.”

São Gonçalo não possui maternidade própria. O hospital Belarmina Monte nasceu por meio da Igreja Católica, há 40 anos. Há três anos passou a ser gerido pela Sociedade Beneficente São Camilo, que recebe atende apenas via SUS.

Na última quarta-feira (13), a reportagem encontrou o hospital lotado de mães e crianças. A explicação: apenas um pediatra fazia o atendimento no momento.


Hospital Regional Monsenhor Antônio de Barros (São José de Mipibu)
Estrutura: 32 leitos de obstetrícia
Capacidade: 270 partos
Encaminhamentos para Natal: 124
Magnus NascimentoHospital Regional Monsenhor Antônio de Barros (São José de Mipibu)Hospital Regional Monsenhor Antônio de Barros (São José de Mipibu)

Luana de Souza Oliveira, 22 anos, é moradora do município de Santo Antônio. Chegou por volta de meio dia ao hospital regional Lindolfo Gomes – que, ressalte-se, possui 15 leitos de obstetrícia –, mas não ficou. “Não tinha obstetra, nem clínico geral, só tinha o pediatra”, lembra Luana. O parto da jovem não tinha complicações: o nascimento de Ana Laura seria por parto normal.

“Tivemos que voltar para casa. Depois, quando deu 17 horas, é que nos mandaram vir para cá”, acrescenta Patrícia, que acompanhou a jovem até o hospital de Macaíba. Em Macaíba, encontrou vaga.

O diretor da hospital regional, Waldir Vieira, nega os mais de cem encaminhamentos apontados por Natal. Classificado como referência de obstetrícia para a microrregião, o hospital dispõe de centro cirúrgico, mas não de UTI pediatria ou materna.  “Passamos pela mesma situação: Arês pactuou três partos conosco e fez dez”, justificou. “30% das ossas pacientes são de alto risco, são essas que encaminhamos. Baixo risco nós só mandamos quando aqui está lotado. O problema é que chega gente de São José, mas o paciente não é daqui”, assevera. Outra deficiência do hospital é a urgência pediátrica. “A escala é totalmente furada, não posso internar a criança correndo o risco de no outro dia não ter o pediatra.”

Hospital Regional Alfredo Mesquita Filho (Macaíba)
Estrutura: 30 leitos de obstetrícia (fechados)
Capacidade: até 30 partos/dia
Encaminhamentos para Natal: não calculado
Ana SilvaHospital Regional Alfredo Mesquita Filho (Macaíba)Hospital Regional Alfredo Mesquita Filho (Macaíba)

Em 2013, das 465 crianças nascidas cujas mães residem em Macaíba, apenas cinco nasceram no município. Dois anos antes, porém, a média de partos por ano era superior a 200. A decadência ocorreu com o fechamento do hospital regional Alfredo Mesquita Filho, levando consigo o único atendimento materno infantil disponível para a cidade.

Fechado em 2011 por problemas de infraestrutura, o hospital passa por uma reforma infinita, que se arrasta há pelo menos quatro anos. Atualmente, 21 leitos estão “funcionando” por decisão judicial, mas o serviço funciona apenas como retaguarda da UPA do Município. O serviço de obstetrícia, que dispunha de 30 leitos, fechou completamente e aguarda a reabertura do centro cirúrgico, cuja estrutura já está pronta. Metade dos equipamentos já chegaram, segundo Glenda Freitas, diretora geral do hospital.

“A reforma da planta está pronta, mas faltam os pequenos reparos e aguardam. Estamos com um prazo de mais 60 dias para reabrir o serviço”, garante Glenda. O custo total da reforma já chega a R$ 1,6 milhão. A expectativa é que a reabertura garanta 51 novos leitos para a unidade.

Maternidade Divino Amor (Parnamirim)
Estrutura: 76 leitos de obstetrícia e 11 leitos de UTI neonatal
Capacidade: 290 partos/mês
Encaminhamentos para Natal: Zero
Ana SilvaMaternidade Divino Amor (Parnamirim)Maternidade Divino Amor (Parnamirim)

De acordo com o levantamento feito pela SMS/Natal, o único município a não encaminhar “invadir” o serviço da capital é potiguar. A unidade é a única da região metropolitana a dispor de UTI neonatal e centro cirúrgico, o que garante o atendimento para casos de alto risco.

“Só encaminhamos os casos em que se precisa de UTI materna, que encaminhamos para a Januário Cicco, ou quando há um problema estrutural que precisamos fechar o serviço”, garante o diretor da unidade, João Albérico Fernandes. O município também estabeleceu convênio com a Rede Cegonha e garantiu R$ 1,340 milhão para construção de uma casa de parto normal e ampliação da UTI neo.

Alessandra Soares (foto), 29 anos, nasceu em Vera Cruz e se mudou há quatro meses para Parnamirim. Ela afirma que a mudança a deixou mais tranquila com relação ao parto. “Vim por motivos pessoais, mas mesmo assim foi melhor. Em Vera Cruz tem uma maternidade, mas não faz parto”, conta a jovem dona de casa. O parto dos outros quatro filhos aconteceu em Natal, e um em Parnamirim.







#Fonte: Tribuna do Norte
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