Doença
negligenciada é classificação que, na prática, não cabe mais à dengue.
Além das estruturas de combate das secretarias municipais de saúde, as
pesquisas científicas auxiliam a entender o comportamento do mosquito, a
intensidades dos vírus e até prever a possibilidade de novos
transmissores da doença. Em Natal, instituições públicas e privadas e
diversas esferas de governo tem somado esforços na luta contra a doença
que perturba a população natalense há quase vinte anos.
Ricardo Valetim (E) coordena o Observatório da Dengue, ferramenta que mudou o monitoramento novo vilão Aedes albopictus.
Em
qualquer livro de ciências do ensino fundamental, o mosquito Aedes
albopictus é lembrado, mesmo que de passagem, por ser um dos
transmissores da dengue. Na Ásia, ele é o principal vilão quando o
assunto é dengue. Embora existe no Brasil e no Rio Grande do Norte, as
pesquisas atuais não o apontam como o grande responsável pelas infecções
humanas. Mas tudo indica que esse inseto vem sofrendo a mesma adaptação urbana pela qual passou o Aedes aegypti no século 20: mudar-se do campo ou área silvestre para as cidades. O professor da UFRN e pesquisador do Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN), Josélio Araújo, realiza uma pesquisa com outras duas colegas na qual investiga albopictus infectados e sua capacidade de transmissão do vírus, inclusive diretamente para seus “filhotes”.
“Aqui existem poucos estudos a respeito disso. O nosso tem sido o pioneiro para investigar o papel do Aedes albopictus na transmissão da dengue. Nunca antes foi feita a investigação do vírus no vetor”, disse Araújo. De abril de 2011 a abril de 2014, em determinados pontos nos bairro do Alecrim, Nova Descoberta, Potengi, Felipe Camarão, Neópolis e Quintas foram capturados mosquitos para a pesquisa.
Segundo Araújo, ainda não é possível dizer, por exemplo, se a epidemia deste ano teve alguma influência desse vetor. Mas ele adiantou que houve uma “invasão” desse mosquito no espaço urbano. A taxa de infecção deles e dos filhotes ainda está sendo aferida. A publicação do estudo em uma revista científica internacional (Plos Neglected Tropical Disease) deverá ocorrer até o final do ano.
O objetivo da pesquisa é realizar, no futuro, um monitoramento mais abrangente do mosquito antes do início de uma epidemia. “Nesse momento, da epidemia, a guerra já está já está perdida. Tão importante quanto é fazer esse monitoramento entomológico [do mosquito] e virológico [do vírus] em períodos entre as epidemias. O objetivo é pegar os primeiros infectados. Se a gente começar nos primeiros, as informações são passadas para as secretarias de saúde e ela entra com uma intervenção naquele local”, acrescentou o professor da UFRN.
Dengue tipos 2 e 3: os mais agressivos
O professor Josélio Araújo também realizou estudos sobre a agressividade dos diferentes tipos de vírus da dengue (1,2,3 e 4). Segundo ele, o tipo 2 e 3 são os mais virulentos. “O tipo 3 é grave na primeira infecção. Então, o indivíduo não precisa ter infecção sequencial para ter uma forma grave da doença. Já o dengue tipo 2 é mais grave nas infecções sequenciais”, disse.
Ainda segundo ele, essa é uma questão genética. Ou seja, é o tipo de vírus que “nasceu para ser ruim”. Entretanto, a resposta defensiva de cada pessoa também define o nível de agressividade do vírus. Além disso, o fato ter doenças de base (diabetes, hipertensão dentre outras) pode facilitar a evolução para um quadro grave. O professor também investiga a origem do vírus.
Na Ásia, há estudos em andamento sobre um possível tipo 5. “Tem um pesquisador que apresentou um trabalho num Congresso Internacional de Dengue na Tailândia. Esse vírus circula na área silvestre na Malásia, mas esse trabalho ainda não foi publicado”, contou. Sem a publicação, não há o reconhecimento da pesquisa pela comunidade científica.
Vacina: crianças fazem parte de experimento
Cerca de 800 crianças de Natal participaram de um experimento para uma vacina contra a dengue. A fórmula da imunização foi desenvolvida pelo laboratório Sanofi-Pasteur. Os testes também foram feitos em outros cidades brasileiras e em 40 mil pessoas de 15 países diferentes em diversas faixas de idade. Os responsáveis pelo monitoramento dessas crianças em Natal é o Centro de Pesquisas Clínicas, instituição privada e parceira do laboratório.
O Sanofi-Pasteur já protocolou o pedido de registro da vacina na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março deste ano. Em audiência pública realizada na quinta-feira passada em Brasília, a diretora da empresa para a América Latina disse que tinha a capacidade de produzir 100 milhões de doses anuais. Não há prazo para que a Anvisa conceda o registro. Segundo professor Josélio Araújo, a vacina consegue proteger 60,8% das pessoas que a recebem. Para a infectologista e pesquisadora do Centro de Pesquisas Clínicas e Instituto de Medicina Tropical, Mônica Bay, o índice é bom. “Ainda sim é um número considerável, porque você evitar mais da metade dos casos já é muito bom”, avaliou.
Tecnologia da informação X Dengue
Colocado em prática desde 2013, o Observatório da Dengue é uma ferramenta pode mudar completamente o monitoramento de casos humanos de dengue e também dos focos do Aedes Aegypti. Acessado por meio de qualquer dispositivo móvel ou não, qualquer pessoa pode denunciar um foco do mosquito da dengue ou registrar que alguém próximo está com suspeita da doença. Desse modo, um agente de endemias ou uma equipe de saúde da família pode ir até a casa desse possível infectado para verificar os sintomas e dar encaminhamentos ao doente. Por meio da denúncia de focos do mosquito, o poder público pode direcionar seus recursos humanos para as áreas mais preocupantes.
Além disso, o sistema gera um mapa de vulnerabilidade cruzando os dados de casos humanos de dengue e de focos, uma vez que utiliza o sistema de geolocalização via satélite. “Quando uma pessoa está doente numa área de mil metros de raio há uma probabilidade grande de contaminação se ali também houver um foco. Já acompanhamos isso acontecer por meio do mapa. Numa semana, tinha uma pessoa doente e um foco naquele raio de um quilômetro. Na outra semana, mais pessoas começavam a adoecer em torno daquele raio”, disse o professor Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da UFRN.
Isso acontece porque os mosquitos e as pessoas têm um ciclo de infecção. Boa parte dos mosquitos da dengue não nasceu com o vírus (a não aqueles que recebem direto da mãe), mas o adquirem depois que picam um ser humano infectado. Dessa forma, quando o mosquito vai se alimentar por uma segunda vez de sangue, ele repassa o vírus para outra pessoa. O Observatório também possui outras funcionalidades importante para a gestão de dados da dengue.
Observatório da DengueSite:telessaude.ufrn.br/observatoriodadengue/
Ciência Contra a Dengue no RN
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