Josias de Souza destaca que Renan Calheiros
tornou-se um personagem paradoxal. Sob refletores, o presidente do
Senado defende obstinadamente o enxugamento da Esplanada. Longe dos
holofotes, guerreia vigorosamente para manter sob seus domínios o
Ministério do Turismo, impedindo que o correligionário Henrique Eduardo
Alves seja acomodado na pasta. E o que parecia solução virou mais um
problema para Dilma Rousseff nas suas já conturbadas relações com o
PMDB.
Renan entusiasmou uma plateia de empresários ao discursar na CNI, a
Confederação Nacional da Indústria: “Se aplaudimos recentemente o Mais
Médicos, está na hora do programa ‘Menos Ministérios’, 20 no máximo.”
Três dias depois desse discurso, o Planalto informou que Dilma decidira
nomear Henrique Alves para o Turismo, desalojando o atual titular da
pasta, Vinicius Lage, um afilhado político de Renan.
A troca já estava combinada com a caciquia do PMDB desde o início do
ano. Mas Renan levou o pé à porta. A novela arrasta-se por oito dias.
Dilma gostaria de ter formalizado a escolha de Henrique Alves junto com
as indicações do petista Edinho Silva (Comunicação Social da
Presidência) e do acadêmico Renato Janine Ribeiro (Eduacação).
Enfraquecida, avaliou que uma briga com Renan não convém ao governo.
Achou melhor tomar distância.
Dilma delegou a resolução da encrenca interna do PMDB ao
vice-presidente Michel Temer, que ainda não conseguiu dissolver o
impasse. No início do ano, ao partilhar os ministérios entre seus
aliados, Dilma combinara que o PMDB teria seis pastas —três para a
bancada do Senado e três para a da Câmara.
Na cota dos senadores, entraram Eduardo Braga (Minas e Energia),
Kátia Abreu (Agricultura) e Helder Barbalho (Pesca), filho de Jader
Barbalho. Na cota da Câmara, subiram Edinho Araújo (Portos) e Eliseu
Padilha (Aviação Civil). Combinara-se que Henrique Alves iria ao Turismo
tão logo seu nome fosse excluído pela Procuradoria da República do rol
de investigados da Operação Lava Jato.
Nesse arranjo, o afilhado de Renan permaneceria no Turismo apenas até
que Henrique Alves tivesse condições de assumir. A meia-volta deixa
desbalanceada a distribuição de poltronas. Mantida a composição atual, o
PMDB de Renan tem quatro pastas. E o de Eduardo Cunha, presidente da
Câmara, tem apenas duas. Significa dizer que, para fugir de um confronto
com Renan, Dilma se arrisca a desagradar o pedaço da bancada de
deputados que ainda valoriza a ocupação de ministérios.
Senador Renan Ainda Quer Impedir Nomeação de Henrique ALves para o Turismo
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